sábado, 14 de junho de 2008

Jaipur

Adeus, Jaipur.

Adeus, casas cor-de-rosa com ramos brancos,

pórticos, peixes auiz nos arcos de entrada.

Adeus, elefante de língua rósea.

vestuto irmão,

comedor de açúcar

ancião paciente.

Adeus, Jaipur, e espelhos de Amber Palace,

jardins extintos, grades redondas,

mortos olhos que espiavam por essas rendas de mármore.

Adeus, cortejos dourados, música de casamentos,

festa bailada e cintilante das ruas, e trinados de fluata.

Adeus, sacerdotes de candeia fumosa,

tantas luzes por tantos bicos,

e os gongos e os sinos de porta de prata

e a Deusa antiga,

e a existência fora do tempo.

Adeus, pinturas, corredores, mirantes,

muralhas, escadas de castelo, mendigos lá embaixo,

criancinhas que pedem esmola como quem canta.

Adeus, Jaipur.

Adeus letras do observatório,

pulseiras de prata de mulheres que vendem tangerinas

pelo crepúsculo.

Adeus, fogareiros de almôndegas,

adeus, tarde morna de erva-doce, canela e rosa,

cravo, pistache, açafrão.

Adeus, cores.

Adeus, Jaipur, sandálias, véus,

macio vento de marfim.

Adeus, astrólogo.

Muitos deuses sobre o Palácio de Vento.

(Onde eu debia morar!)

Sobre o Palácio de Vento meus adeuses: pombos esvoaçantes.

Meus adeuses: rouxinóis cantores.

Meus adeuses: nuvens desenroladas.

Meus adeuses: luas, sóis, estrelas cometas mirando-te.

Mirando-te e partindo.

Jaipur, Jaipur.

* Da Cecília Meireles, que esteve na Índia em 1953.

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